Caro leitor, como já aqui foi dito,
a criação do Breaking Marketing &
Design foi alicerçada na investigação intitulada "Tendências de Design
aplicadas ao Marketing e à Comunicação" (2014), conduzida no Instituto
Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa.
O documento anteriormente aqui divulgado representou, apenas, a fase
exploratória de um projecto que expõe, agora, as suas conclusões. Numa altura
em que diversas publicações ensaiam rankings
e previsões sobre aquelas que serão as tendências de marketing para 2015, o
Breaking Marketing & Design faz
as suas próprias apostas e resgata do estudo supradito as Tendências de Design aplicadas ao Marketing e à Comunicação para 2015. Um excerto do documento que, caso se desperte
a curiosidade do caro leitor, poderá ser adquirido, na íntegra e para usufruto
académico, através do breakingmarketing@gmail.com.
De acordo com a as
entrevistas a Bruno Pereira, Salomé Areias, Henrik Vejlgaard, Daniel Levine,
Sérgio Costa, Rui Ventura e Sofia Dias foram identificadas as seguintes
macrotendências que, de acordo com os especialistas, determinam e determinarão
tendências de design aplicadas ao marketing e à comunicação:
Sustentabilidade – é muito
mais do que ecologia. Trata-se, também, da preferência por e emergência de
sistemas autónomos e cíclicos, cujos motores se alimentam dos recursos
existentes ou do próprio universo desse sistema. Esta tendência surge do
atestado de invalidez do sistema económico vigente, baseado no crescimento
exponencial, expansão e exploração de recursos finitos. Do ponto de vista
exclusivamente ecológico, esta trata-se de uma grande tendência que irá estar,
provavelmente, presente durante muitas gerações, dada a necessidade inequívoca
e previsível de gerir recursos. Naturalmente, as preocupações ambientais terão
impacto nos processos do design e da comunicação das mensagens. Por exemplo, já
não basta dizer que se tem pouco impacto ecológico: tem de se mostrar, com
recurso às mais diversas facetas do design, que se tem pouco impacto ecológico;
Poder do Consumidor – existe
uma inversão da pirâmide. O consumidor tem agora muito poder sobre as marcas e
ele próprio sabe que é trendsetter.
Este fenómeno é que estimulou o sector empresarial a repensar os seus métodos
criativos e, não só a atender mais ao consumidor, como actuar à pequena escala,
com maior foco nas emoções, nas sensações, no ser humano. O consumidor é cada
vez mais atento e exigente, nomeadamente ao nível do design, e é crucial
atender às suas necessidades latentes nesse âmbito. Pode dizer-se, de forma
mais moderada, que não ocorreu uma inversão total da pirâmide mas sim um
equilíbrio de forças e, por isso, hoje em dia, referirmo-nos a trendsetting é falar de um processo
simbiótico entre marcas e consumidor. Muitas vezes, as organizações ou marcas
não conseguem um “tiro certeiro” e produzem e financiam muitos produtos ou
serviços na procura de, pelo menos, um ser bem-sucedido junto do consumidor.
Esse sucesso é determinado pela adesão do consumidor que acaba por ditar a
tendência através daquilo que, de facto, compra. Este poder do consumidor
sempre existiu com maior ou menor expressão, mas vê-se, agora, reforçado pela
participação activa impulsionada pelas redes sociais;
Pensar Design (Design Thinking) – cada vez mais
pensamos sobre o design e respeitamos o design como a ciência e o motor do
século XXI. É o design, e não a tecnologia propriamente dita, que pensa de
forma analítica e, ao mesmo tempo, consegue dar o salto para a inovação quando
aplicado em todo o seu espectro, em todos os processos. Como dizia Henry Ford:
“se eu perguntasse aos meus clientes o que eles queriam, eles diriam que
queriam uma carruagem com mais cavalos”. Trata-se de uma citação retirada de um
contexto no qual o motor criativo ainda era a tecnologia, mas que serve o
propósito de traduzir o espírito inovador incorporado pelo design thinking. Esse espírito tem repercussões muito positivas no
novo mundo pós-crise, receptivo à inovação;
Individualismo – a
globalização fez antever este fenómeno. A perda de raízes, das nossas casas, as
migrações, a dissolução de barreiras (físicas, geográficas ou de comunicação)
trouxe-nos uma grande nostalgia e uma grande vontade de criar identidades. Ao
longo dos anos fomo-nos fragmentando em grupos, estilos, depois pequenas tribos
urbanas. Hoje em dia, ser-se individualista e diferente, de uma forma autêntica
e positiva, pode ser uma vantagem competitiva em termos profissionais e
sociais. No design, isto reflecte-se na adaptação ao estilo de cada utilizador
e, neste sentido, a mass customization
é um bom exemplo;
Mass customization – mais do que fabricar um produto para cada consumidor – modelo com
o qual as grandes marcas que produzem para as massas não se compadecem –, a mass customization trata-se de dar ao
consumidor as ferramentas necessárias para adaptar produtos e serviços às suas
necessidades;
Peça Única – vai ao
encontro do Poder do Consumidor e ao Individualismo. Existe uma necessidade
latente de individualismo, diferenciação e personalização e é nesse aspecto que
as peças únicas ganham dimensão afectiva junto do consumidor. As pequenas
marcas desempenham um papel importante neste contexto;
Impressão 3D –
relaciona-se com a Peça Única. Começam a chegar o mercado as primeiras
impressoras 3D a preços razoavelmente acessíveis e estas configuram uma nova
forma de criar peças únicas. Aliás, com esta ferramenta, o poder de criar peças
únicas pode até passar a ser do próprio consumidor que, como já foi sendo dito,
é, também ele, autor ou co-autor de muitos produtos. Em termos de processo
criativo, numa fase que antecede a chegada dos produtos ao mercado, a
impressora 3D permitirá às equipas criativas – marketers, designers, copywriters – fazer uma rápida transição
do papel ou do ecrã para um 3D físico e palpável. Isto pode acelerar o processo
criativo e facilitar a comunicação dentro das próprias equipas criativas e
entre estas e o consumidor;
Retro Branding – relaciona-se
com a nostalgia e a dimensão afectiva referidas no tópico sobre o
Individualismo e sobre a Peça Única. Tem ligações com as nossas raízes, com a
nostalgia e com o vínculo afectivo às marcas e produtos do passado ou que tomem
referências do passado;
Hipsterismo – triângulos
invertidos, símbolos geométricos, tipos de letra retro, tipos de letra
manuscritas, back-to-the-roots, ou
seja, retorno às origens. Relaciona-se com o retro branding;
Esoterismo – imagens
místicas, céus estrelados, gradações de cores, imagens do zodíaco, símbolos
maçónicos, etc.;
Pequenas Marcas – é um
reflexo da tendência do “não institucionalizado” e da conjuntura de crise. Os
jovens empreendedores tiram partido da conjuntura para lançar pequenas marcas,
produtos e serviços cujo valor vai para além das suas características tangíveis
e cujo modelo de negócio assenta no design
thinking. Liga-se às tendências do Individualismo e da Peça Única. O grande
desafio destas marcas reside em como se tornarem marcas de grande expressão e mainstream sem perder o feeling e a identidade de quando eram
apenas uma marca de nicho. Em 2014, antevê-se uma explosão de pequenas marcas
de qualidade no mercado nacional;
Crowdfunding – o crowdfunding
ou financiamento colectivo tem três vertentes: angariar fundos do público
em geral para financiar um produto ou serviço; aferir o potencial interesse do
público no produto ou serviço; comunicar o produto ou serviço, ou seja, gerar
publicidade. O meio onde habitam as plataformas de crowdfunding é, habitualmente, a internet, pelo que esta tendência
obriga a processos de design e de comunicação apropriados a esse meio;
Viral – muitas
marcas procuram criar soluções que lhe permitam gerar conteúdos virais com
grande input das redes sociais. A
criação de conteúdos em que a marca não se tenta “vender", mas sim
proporcionar valor adicional, é também ela, em si, uma tendência suplementar
(acções de activação de marca, por exemplo);
Made in Portugal – aqui, mais uma vez, entra em consideração a
ligação afectiva, que pode ser maior quando se trata de um produto nacional. A
manufactura de origem nacional, o design pensado por criadores portugueses e o
uso de ícones e paisagens de Portugal – nomeadamente nos trabalhos fotográficos
– advogam a favor da marca junto do consumidor. Contudo, muitas marcas
portuguesas procuram o sucesso através do foreign
branding, apesar de destacarem o facto de serem made in Portugal;
Foreign Branding – muitas
pequenas empresas portuguesas de sucesso (vide
parte 5) identificam-se com nomes anglófonos,
apesar de fazerem do “made in Portugal”
um forte argumento;
Less is more – a frase
associada ao movimento artístico modernista está de novo em voga. É a tendência
do design e comunicação minimalistas e objectivos;
Wearable technology – com a nova
geração de dispositivos electrónicos que, literalmente, se vestem, abre-se
caminho para uma nova categoria de produtos: a wearable technology. Esta tendência de design e tecnologia vem dar
resposta à macrotendência social dos cuidados com a saúde e o bem-estar. É, por
isso, importante que marketers, designers, marcas e organizações estejam
atentos às novas formas de explorar esta nova categoria de produtos;
Responsive – a função do design responsivo é
construir páginas que detectam o tamanho e as características do ecrã do
dispositivo do visitante, com o objectivo de adaptarem as suas dimensões e a
orientação dos seus elementos a esse gadget
específico (TechTarget, 2014). O
surgimento de novas plataformas e dispositivos electrónicos veio criar a
necessidade de adaptabilidade dos conteúdos e pensar na comunicação de forma ainda
mais transversal;
Design Sensorial – o Design
Sensorial visa estabelecer um diagnóstico geral das percepções sensoriais de um
produto e definir os meios adequados para desenvolver ou redesenhar um produto
de design (Gonçalves, 2012).
Texto: Luís Lima
Fotografia: Luís Lima
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